sexta-feira, 7 de junho de 2013

Reflexão sobre a oposição conceptual entre real e virtual, a subjetividade, e sobre os processos psicológicos característicos das interações online. Tendo por base desta reflexão a leitura do texto de Maria Elisa Sayeg “A interação no cyberespaço: real ou virtual” e o apoio do texto de Renato Souza "O que é, realmente, o virtual"


O surgimento das novas tecnologias trouxe consigo o desenvolvimento de uma série de conceitos que só é possível entender à luz das novas modalidades de comunicação que são intercedidas pelo computador. Mas independentemente disso, a comunicação e a interação que as novas tecnologias permitem, inserem-se no âmago da cultura letrada.
Para se conseguir perceber melhor o impacto que o computador teve sobre a população instruída, Tuman sugere que devemos “olhar menos para a própria tecnologia, e mais para as práticas existentes no seu uso, inclusive a leitura e a escrita.” (Sayeg, 2001:1).
A escrita é uma tecnologia cujo impacto foi tremendo, tanto nas formas de natureza social como na aptidão que concedeu às pessoas para elaborar o pensamento, inclusivamente o pensamento a respeito dos sentimentos (Saieg, 2001). É de salientar que a introdução de uma nova tecnologia não prejudica instantaneamente as práticas sociais existentes. Consequentemente, a invenção da imprensa não mudou de imediato os hábitos sociais de leitura.
Após a Revolução Industrial a sociedade letrada vive a subjetividade através de romances, diários, reminiscências pessoais, poemas ou até mesmo ensaios. Na era da Revolução da Tecnologia da Informação as formas de vivência da subjetividade da cultura letrada podem fazer parte de um paradoxo intrigante, e dele fazem parte, nomeadamente, o diário online.
Enquanto na cultura anterior o diário até podia ter alguns aspetos públicos (eventualmente poderia vir a ser publicado um dia), ele não era criado com o intuito de comunicar com o público, mas sim, como uma maneira de cultivar a interioridade e a vivência emocional no ambiente e nas relações (privadas ou selecionadas). O diário online é considerado como paradoxal pois abrange uma introspeção que é realizada num ambiente inteiramente descoberto e público, que é a Internet. Contudo, como a maioria de nós acede à internet a partir do nosso ambiente privado em casa, surge por vezes, um sentimento ilusório de segurança e privacidade.
O surgimento da Internet como uma rede mundial de computadores veio criar um novo espaço para a expressão, conhecimento e comunicação humana. Porém trata-se de um espaço que não existe fisicamente, mas virtualmente: o ciberespaço.
Espaço é um termo que assinala a mudança do computador como uma "ferramenta" para o computador como um "meio". Meio este que pode ser uma forma de comunicação e expressão ou um meio ambiente, palco, espaço para a vivência dramática: vivência de emoções e de personagens que projetamos nesse meio. Assim, o conceito de espaço deixa de ser literalmente espacial e perde as suas prováveis características geográficas.
Cyber encaminha-nos para a cibernética. Na cibernética a separação entre o interno e o externo não é a tradicional. Aqui importam os fluxos e as regulações.
Ao juntar espaço e cyber obtemos uma palavra híbrida: cyberespaço. Esta palavra encaminha-nos para o traçado histórico dessa tecnologia; para uma determinada situação geopolítica; e para a diluição das fronteiras entre humano e máquina.
No cyberespaço as pessoas podem expressar-se de múltiplas formas, podem criar personagens ou tornarem-se elas próprias uma personagem.
Quanto à distinção entre real e virtual, esta pode apresentar-se com base na dicotomia de que o real não depende dos seres humanos mas o virtual depende. Ou então podemos considerar a existência de uma realidade objetiva e independente da existência de seres humanos, esta considerar-se-ia ontologicamente objetiva, que contraria com uma realidade que apenas existe porque os seres humanos assim convencionaram que seria – realidade epistemologicamente objetiva.
Assim, o virtual é epistemologicamente objetivo e simultaneamente é também ontologicamente (inter)subjetivo.
Segundo Souza (2011:6), o virtual é “mediado ou potencializado pela tecnologia; produto da externalização de construções mentais em espaços de interação cibernéticos.
Quanto às interações online, estas são cada vez mais utilizadas pela população letrada. As pessoas alteram a sua predileção por formas diferentes de comunicação consoante as circunstâncias em que se encontram, com base em fatores que vão para além das características objetivas dos média.
Na comunicação mediada pelo computador a informação social do contexto pode ser “filtrada” e assim arrumada fora da interação durante o processo de comunicação textual. Os vestígios sociais do contexto esclarecem a essência da situação social e anunciam limites normativos adequados para o comportamento. Numa comunicação face-a-face estes indícios podem abranger características visíveis do ambiente (por exemplo o local onde se encontra o indivíduo), gestos e expressões faciais, símbolos da autoridade e de status (roupa, adereços), aparência física, e comportamento espacial (pose, postura, distância interpessoal). Na comunicação mediada pelo computador, quando estes índices estão ausentes e as pessoas tornam-se mais orientadas para si próprias, menos preocupadas com sentimentos, opiniões e com as avaliações dos outros. Desta forma o sujeito perceciona um maior sentido do anonimato e encara os outros de forma menos individualizada. O sujeito sente menos empatia, menos culpa, menos comparação social e menos influência das normas sociais. Estes aspetos podem em certas situações, levar a comportamentos mais desinibidos e facilitar a manifestação de comportamentos agressivos e hostis.
Os utilizadores das interações online são ainda capazes de encontrar estratégias de comunicação relacional através de meios eletrónicos que permitem a transmissão de informação social entre as pessoas. Desta forma mantêm as mesmas necessidades de comunicação interpessoal, em contexto de comunicação mediada pelo computador e de comunicação face-a-face.


Referências Bibliográficas:

·         Sayeg, M. E. M. (Julho, 2001). Interação no Cyberespaço: Real ou Virtual? Revista Tesseract, 5.
·         Souza, R. (Abril, 2001). O que é, realmente, o virtual? Revista da Informação e Tecnologia.
·         Quintas-Mendes, A., Morgado, L., & Amante, L. (2010). Comunicação Mediatizada por Computador e Educação Online: da Distância à Proximidade. In M., L. Pesce & A. Zuin (Orgs.), Educação online: cenário, formação e questões didático-metodológicas. Rio de Janeiro: Editora WAK, pp. 247-278.





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