O surgimento das novas tecnologias
trouxe consigo o desenvolvimento de uma série de conceitos que só é possível
entender à luz das novas modalidades de comunicação que são intercedidas pelo
computador. Mas independentemente disso, a comunicação e a interação que as
novas tecnologias permitem, inserem-se no âmago da cultura letrada.
Para se conseguir perceber melhor o
impacto que o computador teve sobre a população instruída, Tuman sugere que
devemos “olhar menos para a própria
tecnologia, e mais para as práticas existentes no seu uso, inclusive a leitura
e a escrita.” (Sayeg, 2001:1).
A escrita é uma tecnologia cujo
impacto foi tremendo, tanto nas formas de natureza social como na aptidão que
concedeu às pessoas para elaborar o pensamento, inclusivamente o pensamento a
respeito dos sentimentos (Saieg, 2001). É de salientar que a introdução de uma nova tecnologia não prejudica instantaneamente
as práticas sociais existentes. Consequentemente, a invenção da imprensa não
mudou de imediato os hábitos sociais de leitura.
Após a Revolução Industrial a
sociedade letrada vive a subjetividade através de romances, diários,
reminiscências pessoais, poemas ou até mesmo ensaios. Na era da Revolução da
Tecnologia da Informação as formas de vivência da subjetividade da cultura
letrada podem fazer parte de um paradoxo intrigante, e dele fazem parte,
nomeadamente, o diário online.
Enquanto na cultura anterior o diário
até podia ter alguns aspetos públicos (eventualmente poderia vir a ser
publicado um dia), ele não era criado com o intuito de comunicar com o público,
mas sim, como uma maneira de cultivar a interioridade e a vivência emocional no
ambiente e nas relações (privadas ou selecionadas). O diário online é
considerado como paradoxal pois abrange uma introspeção
que é realizada num ambiente inteiramente descoberto e público, que é a Internet.
Contudo, como a maioria de nós acede à internet a partir do nosso ambiente
privado em casa, surge por vezes, um sentimento ilusório de segurança e
privacidade.
O surgimento da Internet como uma rede mundial de
computadores veio criar um novo espaço para a expressão, conhecimento e
comunicação humana. Porém trata-se de um espaço que não existe fisicamente, mas
virtualmente: o ciberespaço.
Espaço é um termo que assinala a mudança do computador como uma "ferramenta"
para o computador como um "meio". Meio este que pode ser uma forma de
comunicação e expressão ou um meio ambiente, palco, espaço para a vivência
dramática: vivência de emoções e de personagens que projetamos nesse meio. Assim,
o conceito de espaço deixa de ser literalmente espacial e perde as suas
prováveis características geográficas.
Cyber encaminha-nos para
a cibernética. Na cibernética a separação entre o interno e o externo não é a
tradicional. Aqui importam os fluxos e as regulações.
Ao juntar espaço e cyber
obtemos uma palavra híbrida: cyberespaço. Esta palavra encaminha-nos para o
traçado histórico dessa tecnologia; para uma determinada situação geopolítica;
e para a diluição das fronteiras entre humano e máquina.
No cyberespaço as pessoas
podem expressar-se de múltiplas formas, podem criar personagens ou tornarem-se
elas próprias uma personagem.
Quanto à distinção entre real e
virtual, esta pode apresentar-se com base na dicotomia de que o real não
depende dos seres humanos mas o virtual depende. Ou então podemos considerar a
existência de uma realidade objetiva e independente da existência de seres
humanos, esta considerar-se-ia ontologicamente objetiva, que contraria com uma
realidade que apenas existe porque os seres humanos assim convencionaram que
seria – realidade epistemologicamente objetiva.
Assim, o virtual é
epistemologicamente objetivo e simultaneamente é também ontologicamente
(inter)subjetivo.
Segundo Souza (2011:6), o virtual é “mediado ou potencializado pela tecnologia;
produto da externalização de construções mentais em espaços de interação
cibernéticos.”
Quanto às interações online, estas
são cada vez mais utilizadas pela população letrada. As pessoas alteram a sua predileção
por formas diferentes de comunicação consoante as circunstâncias em que se
encontram, com base em fatores que vão para além das características objetivas
dos média.
Na comunicação mediada pelo
computador a informação social do contexto pode ser “filtrada” e assim arrumada
fora da interação durante o processo de comunicação textual. Os vestígios
sociais do contexto esclarecem a essência da situação social e anunciam limites
normativos adequados para o comportamento. Numa comunicação face-a-face estes indícios
podem abranger características visíveis do ambiente (por exemplo o local onde
se encontra o indivíduo), gestos e expressões faciais, símbolos da autoridade e
de status (roupa, adereços), aparência física, e comportamento espacial (pose,
postura, distância interpessoal). Na comunicação mediada pelo computador,
quando estes índices estão ausentes e as pessoas tornam-se mais orientadas para
si próprias, menos preocupadas com sentimentos, opiniões e com as avaliações
dos outros. Desta forma o sujeito perceciona um maior sentido do anonimato e encara
os outros de forma menos individualizada. O sujeito sente menos empatia, menos
culpa, menos comparação social e menos influência das normas sociais. Estes
aspetos podem em certas situações, levar a comportamentos mais desinibidos e
facilitar a manifestação de comportamentos agressivos e hostis.
Os utilizadores das interações online
são ainda capazes de encontrar estratégias de comunicação relacional através de
meios eletrónicos que permitem a transmissão de informação social entre as
pessoas. Desta forma mantêm as mesmas necessidades de comunicação interpessoal,
em contexto de comunicação mediada pelo computador e de comunicação
face-a-face.
Referências Bibliográficas:
·
Sayeg, M. E. M.
(Julho, 2001). Interação no Cyberespaço:
Real ou Virtual? Revista Tesseract, 5.
·
Souza, R. (Abril,
2001). O que é, realmente, o virtual?
Revista da Informação e Tecnologia.
·
Quintas-Mendes,
A., Morgado, L., & Amante, L. (2010). Comunicação
Mediatizada por Computador e Educação Online: da Distância à Proximidade.
In M., L. Pesce & A. Zuin (Orgs.), Educação online: cenário, formação e
questões didático-metodológicas. Rio de Janeiro: Editora WAK, pp. 247-278.
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